Artigo Especial: SpaceX lança cápsula Crew Dragon à Estação Espacial
Astronautas a bordo da Crew Dragon. (Foto: Reprodução)

                                                                                              Por Adriano Pereira

No último sábado tivemos um marco importante na história da exploração espacial: A primeira missão tripulada da cápsula Crew Dragon, fabricada pela empresa SpaceX. Embora tenha impacto em todo o mundo, representa a consolidação de um projeto que se iniciou na primeira década após os anos 2000 nos Estados Unidos. No entanto, antes de falarmos sobre a representatividade dessa missão, vamos entender um pouco de como chegamos até aqui.

O termo Astronáutica – definido num primeiro momento como a ciência que tem o objetivo de dar ao homem a possibilidade de sair da Terra e viajar a sua vontade por todo o espaço celeste -, foi utilizado pela primeira vez em 1927 por Rosny Ainé, um escritor francês que por muitos anos esteve envolvido com o movimento astronáutico daquele país.

Em 1928, a título de curiosidade, o barão austríaco Guido von Pirguet sugeriu a utilização do nome Cosmonáutica para o mesmo significado. O nome sugerido por Pirguet ganhou força especialmente na ex-União Soviética. É exatamente por isso que, especialmente durante a Guerra Fria, a imprensa internacional se referia a Cosmonautas para falar dos tripulantes das espaçonaves soviéticas, e Astronautas, para os tripulantes das espaçonaves americanas. Vale ressaltar aqui, que as relações entre França e Estados Unidos se dão desde 1776, e o país europeu teve um papel importante no estabelecimento dos EUA como potência regional no continente americano.

Conhecer, mesmo que resumidamente, os fatos acima é muito importante, afinal, foi durante a Guerra Fria que aconteceu a chamada corrida espacial, entre 1957 e 1975. A busca da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e dos Estados Unidos da América (EUA) pela supremacia na exploração espacial tinha como plano de fundo a segurança nacional de cada país e a imposição de seus símbolos como superioridade ideológica e tecnológica.

O Programa Espacial Soviético, iniciado em 1956, assim como, em 1958, a NASA – Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, na tradução para o português -, foram criados com este fim. Vale destacar que o lançamento de um foguete nada mais é do que a explosão de um bomba realizada de maneira controlada.

Infelizmente não dá para explicar o passo a passo de cada nação durante todos estes anos nesta matéria, contudo, a título de pontuação, vamos citar o Sputinik-1, o primeiro satélite do mundo, lançado pela União Soviética em 1957 como o primeiro grande feito da corrida espacial; e a chegada do homem à Lua, em 1969, através do programa Apollo, da NASA, como um grande feito americano. Em conjunto, no ano de 1975, ocorreu uma missão dos dois países, chamada de Apollo–Soyuz, em que duas espaçonaves, uma da URSS e outra dos EUA, se acoplaram em órbita da Terra, numa simbologia que buscava estreitar os laços comerciais entre ambos.

Após isso, com a dissolução da URSS, o Programa Espacial Soviético foi substituído pela Agência Espacial Federal Russa, chamada também de Roscosmos. A NASA e a Roscosmos mantiveram as relações de cooperação iniciadas em 1975, com dezenas de trabalhos feitos em conjunto ao longo dos anos.

Prova disso, é que desde 2011 os Estados Unidos não enviam seus astronautas ao espaço de solo americano. Os lançamentos em geral têm ocorrido do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, como aconteceu, por exemplo, no dia 9 de abril deste ano, quando dois cosmonautas russos (Anatoli Ivanichin e Ivan Vagner) e um astronauta americano (Chris Cassidy) foram enviados à Estação Espacial Internacional (ISS).

E são vários os motivos ao longo do tempo foram se acumulando até os EUA parar de enviar astronautas a partir de solo local no ano de 2011. Tudo começou no início de 2003, quando o ônibus espacial Columbia se desintegrou ao entrar de volta na atmosfera terrestre, matando toda a tripulação de sete astronautas. O episódio fez com que, em 2004, o presidente à época, George W. Bush, anunciasse que os ônibus espaciais seriam aposentados, e que a NASA abriria espaço para o transporte comercial de cargas e astronautas. Por conta disso, ficou estabelecido que a Agência focaria seus investimentos em novas missões para a Lua e Marte.

Quando Barack Obama se tornou presidente, parte desses planos foram revistos e a missão que levaria astronautas de volta à a Lua, por exemplo, foi cancelada. A comercialização do transporte, porém, ainda recebia apoio e várias empresas se candidataram para participar do projeto chamado C3PO, que embora muitas pessoas o associem com o personagem de Star Wars C-3PO, nada mais é do que a abreviação para Commercial Crew & Cargo Program Office (traduzido como Escritório do Programa de Tripulação Comercial e Carga).

De maneira resumida, o C3PO é o responsável por coordenar a participação de empresas privadas no transporte de cargas e astronautas até o espaço, ou seja, a fabricação dos foguetes e lançamentos que antes eram totalmente realizados de maneira estatal por meio da NASA, agora poderia ser “terceirizado”.

Uma vez que a NASA já estava pagando à Rússia para enviar seus astronautas em foguetes Soyuz, nos lançamentos feitos a partir do Cazaquistão, eles entenderam que seria mais interessante ter empresas privadas americanas fazendo o mesmo trabalho, a um custo muito menor.

Inicialmente a disputa para este trabalho ficou com a Boeing, com quem a NASA tem um contrato de US$ 4,2 bilhões, e a SpaceX, com um contrato de US$ 2,6 bilhões. Na postagem de hoje vamos focar na SpaceX, que foi uma das estrelas no último sábado.

Fundada em 2002 pelo empresário Elon Musk, a SpaceX foi criada com o objetivo de diminuir os custos do transporte aéreo e viabilizar, a longo prazo, a colonização de Marte, por exemplo. Ela foi a primeira empresa privada a conseguir produzir componentes de foguetes de maneira reutilizável. Até então, o primeiro estágio, como é chamada a parte do foguete que é responsável por tirar toda a estrutura do chão, era descartado após realizar o seu trabalho.

A SpaceX desenvolveu um sistema em que este estágio inicial pudesse retornar à Terra em segurança e ser reutilizado em outros voos, reduzindo os custos em cerca de 90% em lançamentos futuros. Para se ter uma ideia, o SLS, foguete desenvolvido pela NASA, tem um custo de US$ 1 bilhão por lançamento, enquanto que o Falcon 9, desenvolvido pela SpaceX, custa a partir de US$ 90 milhões.

Por ser uma tecnologia nova, o processo de construção dos foguetes da SpaceX acabou passando por alguns contratempos. Em 2016, o mesmo Falcon 9 da missão do final de semana, explodiu na plataforma de lançamento. Em 2019, a Crew Dragon, que transportou os astronautas até a ISS, explodiu durante os testes. Felizmente não houve vítimas nestes dois episódios porque ainda se tratava de testes não tripulados. De qualquer maneira, representaram um atraso de quatro anos na missão, prevista para acontecer incialmente em 2016.

No lançamento do último dia 30, os astronautas Bob Behnken e Doug Hurley, veteranos da NASA, e melhores amigos, testaram todos os sistemas de controle e propulsores. O que inclui um avançado painel com telas sensíveis ao toque, muito diferente dos que até então foram utilizados pela NASA em seus projetos, além de um sistema de acoplamento inteiramente automático, que como esperado, realizou o trabalho com maestria. Agora, nos resta aguardar o retorno deles à Terra. Eles devem passar entre 30 e 90 dias no espaço.

Conhecer um pouco do contexto histórico ajuda a entender a importância da missão, não apenas para os americanos, mas para o mundo de uma maneira geral, uma vez que missões comerciais abrem espaço para inúmeros outros projetos que não poderiam ser imaginados utilizando apenas uma agência estatal para o desenvolvimento de equipamentos e espaçonaves.

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